
Muito temos ouvido e lido sobre o desafio do retorno às aulas presenciais. Mesmo sem ter certeza de quando ele ocorrerá em muitos locais, é essencial termos clareza sobre o que significará essa “sala de aula híbrida”, principalmente para fazer valer tudo o que temos estudado, nos últimos anos, sobre a aprendizagem e, em especial, sobre a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) e as competências e habilidades que são cada vez mais necessárias neste nosso século.
Híbrido, na proposta do Ensino Híbrido defendida por alguns autores (BACICH, TANZI NETO, TREVISANI, 2015; HORN e STAKER, 2015; GARRISON e VAUGHAN, 2008), baseia-se na definição do blended learning que considera a complementação entre o ensino online, ou mediado por tecnologias digitais, e o ensino presencial, face a face, de modo a obter o “melhor dos dois mundos”. Não se trata de ter a mesma experiência acontecendo online e presencialmente. Podemos encontrar, na definição de Ensino Híbrido, o estudante no centro do processo, o professor com o papel mediador, a tecnologia como um suporte que possibilita o protagonismo dos estudantes e o desenvolvimento da cultura digital.
No Ensino Híbrido, o estudante está no centro do processo e participa de experiências de aprendizagem onde tem oportunidade de debater, argumentar, desenvolver o pensamento crítico e a resolução de problemas. Essas experiências podem ocorrer no momento online, mas são melhor aproveitadas no momento face a face, olho no olho.
O professor não é o centro do processo no Ensino Híbrido. Ele é aquele que estabelece a mediação entre os estudantes e os objetos de conhecimento, desenhando experiências que podem contar, eventualmente, com a explicação de um conteúdo, mas não é só esse seu papel. Seria muito pouco reduzir a aprendizagem a uma mera exposição de um conteúdo. Professores são profissionais com uma formação que os capacita para oferecer experiências de aprendizagem diversas que envolvem os estudantes com habilidades e competências que precisam desenvolver e não é apenas a aula expositiva que tem essa função.
As tecnologias oferecem oportunidade dos alunos produzirem conhecimentos a partir das experiências que foram desenhadas especificamente para esse ambiente. Eventualmente, pode considerar o digital como um recurso para a exposição de algum conteúdo, mas as tecnologias digitais precisam ir além desse papel, oferecendo também possibilidade de interação e acompanhamento das aprendizagens individuais ou em pequenos grupos, produção de conhecimentos.
Ao ler e ouvir o que tem sido comunicado como “sala de aula híbrida” é muito difícil encontrar essas definições embasando escolhas… Na definição do Michaelis para híbrido, além das definições da genética e da gramática, encontra-se “que ou o que é composto de elementos distintos ou disparatados”. Talvez seja essa a definição que, no senso comum (e, portanto, equivocada no que temos defendido no Ensino Híbrido), tem sido utilizada para explicar a sala de aula híbrida. Essa “sala de aula híbrida” considera elementos distintos, como os alunos em sala de aula e os alunos em casa, tendo o mesmo tipo de experiência. Nessa “sala de aula híbrida”, equivocadamente, o professor está no centro do processo, pois é ele quem está com o “microfone”, e quem gerencia o caos de reunir “elementos distintos e disparatados”, como alunos em casa e alunos na sala de aula (“caiu minha conexão, vai ficar gravado?”; “se vai ficar gravado, o que viemos fazer aqui?”; “professor(a), olha o que estão escrevendo no chat”). Essa “sala de aula híbrida” defende a ideia equivocada de que a aula expositiva é a melhor forma de aprender (“pessoal, vamos ficar em silêncio senão quem está em casa não consegue me ouvir”, “não dá pra fazer pergunta agora, porque não tem microfone pra todo mundo”).
Considero que auxiliar a comunidade escolar (famílias, especificamente) a compreender que um modelo de aula em que crianças e jovens precisarão (se já não estão) ficar horas e horas na frente das telas “assistindo” à exposição de um professor não é a melhor forma de desenvolvermos habilidades essenciais. Aprender a aprender, aprender a ser, aprender a conviver, aprender a fazer são os quatro pilares da educação da UNESCO e que merecem ser considerados na sala de aula online, híbrida ou presencial. Mudar os meios não pode significar uma mudança tão drástica dos fins…
Parece existir certa semelhança, com o método de ensino do psicologo Carl Roger.onde o ensino é centrado no aluno , com a presença de facilitadores.
Essa nova realidade faz com que o professor tenha que se inventara a cada dia e, obriga aquele docente que está acostumado com a zona de conforme, ter que sair dela. É uma realidade que não há mais como retroceder ao tradicional.
Vamos ter que adquirir novos hábitos na coletividade da sala de aula, quem sabe ele nos tragam mais silêncio para ouvir melhor, mais distanciamento físico para respeitar mais o espaço do outro…