O “híbrido” que temos pela frente

The only way you can predict the future is to build it.

Alan Kay, computer scientist

“A única maneira de prever o futuro é construindo-o”. A citação que abre este texto traz uma reflexão sobre as escolhas a serem feitas no retorno às aulas que considera parte dos estudantes presentes fisicamente nas escolas e parte deles presentes em um ambiente virtual, aprendendo remotamente. Há diferentes escolhas a serem feitas e todas elas oferecem pistas do futuro que se pretende construir em uma instituição, ou na educação como um todo. Vamos refletir sobre isso?

Quando o híbrido apenas considera a junção do online com o presencial

Nesse formato, as aulas no espaço físico da escola e aquelas que acontecem em casa são as mesmas. Ou seja, o professor que está em sala de aula expõe o conteúdo, alunos que estão em casa e na escola acompanham o mesmo conteúdo e têm idealmente a mesma aula, independente do ambiente em que estão. Essa forma de unir presencial e remoto considera o professor no centro do processo, o conteúdo que é exposto também é o foco, e é feita a mesma oferta para todos. A aula ocorre de um pra muitos, considera que todos aprendem no mesmo ritmo e imagina-se que, ao apresentar conteúdos de forma igual a todos, obtém-se o mesmo resultado. Como interagir nesse formato será mais difícil e tomará muito tempo, além das dificuldades de conexão, que nem sempre é a melhor para todos, pode-se chegar a um ponto em que todos que estão na sala de aula física ouvem a aula, em silêncio, para não atrapalhar a transmissão para quem está em casa. Quem está em casa tenta acompanhar a exposição da aula, mesmo que lidando emocionalmente com o fato de não estar em contato com aqueles que estão na sala de aula, e sem poder interromper a explicação. Retomando a citação que abre este texto, o futuro que se constrói é aquele que se baseia em um passado que considera o professor como detentor dos conhecimentos a serem transmitidos para alunos que, como tábulas rasas, terão a oportunidade de receber, ao mesmo tempo, a mesma “instrução”.

Quando o híbrido considera o potencial do online para uma melhor experiência presencial

Nesse formato, o momento online oferece a possibilidade de aprendizagem dos estudantes em diferentes tempos e ritmos, com foco no desenvolvimento de habilidades essenciais, mas oferecendo oportunidades para os estudantes irem além do que é proposto. Projetos ampliam a relação dos estudantes com os conhecimentos e possibilitam a construção em grupos, o desenvolvimento do pensamento crítico, científico e criativo, a aproximação com a cultura digital como caminho para que se aprenda mais e melhor, entre outras possibilidades. Os momentos presenciais, então, são momentos de relação com o humano, com outras pessoas, de forma “desconectada”. Nesses momentos, os estudantes podem viver aquilo que não tiveram a oportunidade de fazer no primeiro semestre: a presença física, a troca de ideias sem ter que ligar a câmera e “desmutar” o microfone, a retomada das relações humanas, respeitados todos os cuidados sanitários. Seminários socráticos, instrução entre pares, resolução de problemas, aprendizagem baseada em perguntas, entre outros modelos podem ser utilizados nos momentos presenciais e valorizar a construção coletiva em grupos menores.

Quais são os desafios?

Sem dúvida, trata-se de uma necessidade de mudança de cultura da comunidade escolar como um todo: professores, estudantes, famílias. Há uma falsa ideia de que a mesma carga horária que foi contratada no início do ano letivo tenha que ser entregue para os estudantes, independente da sobrecarga de tela ou do stress que isso possa ocasionar. Além de conscientizar as famílias, há o desafio da formação dos professores, que já se reinventaram no primeiro semestre, substituindo uma forma de lecionar por outra e que, agora, precisam caminhar em sua curva de aprendizagem para adaptar novos modelos às suas expectativas e necessidades, considerando as expectativas e as necessidades dos estudantes e de suas famílias. Pode parecer, para algumas pessoas, que apoiar-se na exposição de conteúdos facilitará o trabalho docente, mas talvez o stress seja ainda maior, além da constatação de que o impacto nas aprendizagens pode não ser o que se espera. Repensar a avaliação é um outro desafio, pois sabemos o quanto ela indica os resultados do processo e se não for considerada como um elemento fundamental para identificar os avanços, corremos o risco de utilizar formas de medidas que não se relacionam com o processo a ser medido, como se utilizássemos quilogramas para medir distâncias…..

Instituições que têm conseguido mostrar outros formatos de engajar os alunos com as aprendizagens e com produções que impactam no desenvolvimento de conhecimentos, habilidades e valores, estão participando da construção desse futuro, mesmo que ele avance a passos bem menores, mas que ele não retorne a etapas muito anteriores do que já tínhamos conseguido atingir em 2019.

Fonte das imagens: Pixabay

Para conhecer algumas ações feita por professores, acesse: http://www.triade.me/videoteca

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Publicado por Lilian Bacich

Doutora em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano (USP), Mestre em Educação (PUC), Pedagoga (USP) e Bióloga (Mackenzie), professora de Ensino Fundamental, Ensino Médio. Coordenadora de curso de Pós-graduação em Metodologias ativas no Instituto Singularidades. Organizadora dos livros: Ensino Híbrido: personalização e tecnologia na educação; Metodologias ativas para uma educação inovadora. Cofundadora da Tríade Educacional. www.triade.me Contato: bacichlilian@gmail.com

2 comentários em “O “híbrido” que temos pela frente

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