Vamos falar sobre Projetos?

Muitos de vocês já devem ter ouvido falar ou, até mesmo, já utilizaram Projetos em suas escolas.

É difícil dizer em que momento os projetos foram inseridos nas práticas docentes, podemos generalizar dizendo que todo professor já criou ou participou de algum projeto em sua escola, seja o projeto da mostra literária, ou da feira de ciências, projeto água, projeto super-heróis.

Quando essas ações surgem nas instituições de ensino, os objetivos são os mais diversos: podem estar atrelados a uma ação institucional: escolas de uma rede devem trabalhar com a temática da sustentabilidade, e todas as escolas fazem projetos com esse tema.

Nesse sentido o objetivo acaba sendo o de integrar conteúdos curriculares e relacioná-los a um tema que precisa ser discutido no ambiente escolar e que, em algumas situações, não fazem parte do currículo da instituição. Dessa maneira, essa temática, passa a fazer parte na forma de projetos.

Mas, será que é desse tipo de projeto que estamos falando?

Pode ser, e pode não ser.

Uma das partes mais difíceis é definir o que de fato é um projeto, e posso adiantar que não existe uma fórmula ou definição única. O que tem se observado na literatura, recentemente, é a diferenciação entre projetos temáticos, como os que eu acabei de comentar, e a Aprendizagem Baseada em Projetos (ABP).

O que é a ABP?

A ABP é uma metodologia ativa que utiliza projetos como o foco central de ensino, integrando, na maioria das vezes, duas ou mais disciplinas.

Os projetos podem surgir de um problema ou de uma questão norteadora, proveniente de um contexto autêntico.

Eles envolvem a investigação, o levantamento de hipóteses, o trabalho em grupo e outras competências até chegar a uma solução ou a um produto final.

Nesse contexto, os estudantes devem lidar com questões interdisciplinares, tomar decisões e trabalhar em equipe.

 Assim, além dos conteúdos, pensamento crítico, criatividade, resolução de problemas e colaboração são essenciais nesse processo. O desenvolvimento das habilidades socioemocionais também fazem parte dos objetivos o que torna o processo mais estimulante aos estudantes, pois eles percebem um objetivo claro naquilo que estão estudando.

O que não pode faltar em um projeto?

Segundo o Buck Institute for Education (2008), que tem disseminado a concepção atual, a aprendizagem baseada em projetos tem como objetivos principais.

Em primeiro lugar, o trabalho com conteúdos relevantes, oferecendo oportunidade para o estudante investigar esses conteúdos por meio de questionamentos abertos e apresentando a um público o resultado de seu trabalho.

Além disso, enfatiza-se o desenvolvimento de habilidades para o século XXI, criando a necessidade de saber, dando oportunidade de voz e escolha e incluindo processos de revisão e reflexão.

PBL_blog

[1]

Como planejar ?

O planejamento de um projeto dentro nos parâmetros da ABP é algo que pode dar um certo trabalho, porém, uma vez implementado, o processo se tornará mais fácil para demais projetos.

Uma vez que os benefícios da ABP forem compreendidos, o próximo passo é pensar em como ele pode ser implementado em sala de aula e de que maneira pode estar atrelado, atualmente, às propostas da Base Nacional Comum Curricular (BNCC)

Um projeto pode ter curta ou longa duração, pode ser de apenas uma disciplina ou ainda interdisciplinar e pode estar associado a um currículo já existente, ou dar origem a um novo currículo baseado em projetos, como o que ocorre em diversas escolas como High Tech High[2], nos Estados Unidos.

Basicamente ele é constituído por uma questão norteadora, por etapas a serem construídas coletivamente e pela produção de um produto final, que pode ser uma máquina do tempo construída com sucata, uma dramatização, um vídeo, um podcast, um blog.

Explorar os recursos digitais na construção de um projeto é sempre um desafio, mas é algo que fará muita diferença em todo o processo.

Essa é uma sugestão para um primeiro contato com a proposta, pois, como encontramos na literatura especializada, os projetos devem ser, dentro do possível, autorais, surgindo da necessidade e da curiosidade dos estudantes sobre um problema real.

Em uma abordagem sustentada, porém, e em tempos de BNCC e sua implementação, ter esse olhar mais focado no que é importante ser desenvolvido e no que pode ser estimulado em sala de aula, é um primeiro passo para a adoção da ABP. A seguir, vamos tratar de alguns pontos que merecem atenção nessa abordagem.

Quanto tempo dura um projeto?

O tempo de duração é algo que pode variar, de acordo com cada projeto. Alunos mais novos tendem a responder melhor em projetos mais curtos, enquanto  alunos de séries finais do ensino fundamental e do ensino médio tendem a desenvolver projetos de médio prazo com maior facilidade.

Projetos muito longos podem ser prejudiciais, pois os alunos perdem o interesse pelo tema, ou acabam não integrando o conhecimento de etapas muito distantes. É importante determinar o tempo de duração bem como o tempo semanal que os alunos utilizarão para se dedicar ao projeto, tanto durante as aulas como na forma de tarefa.

Como engajar os estudantes e a comunidade escolar?

Na implementação dos projetos, engajar o aluno é fundamental para que eles se envolvam nas etapas de produção e para que, consequentemente, a metodologia se desenvolva centrada no estudante.

Como comentei, é essencial na Aprendizagem Baseada em Projetos a existência de uma questão norteadora. Essa questão deve ser bem elaborada e construída coletivamente para que sua resposta seja construída no decorrer do projeto, concretizando-se no produto que se deseja obter deste processo.

Essa pergunta deve ser ampla o bastante para permitir que os alunos busquem diferentes caminhos e realizem escolhas durante as etapas, colaborem e desenvolvam a criticidade.

Vamos usar o exemplo citado anteriormente, em um projeto sobre alimentação saudável. Se a questão norteadora fosse “O que é alimentação saudável? ”, certamente seria respondida na primeira pesquisa que os alunos realizaram sobre o tema. Já uma pergunta como “O que podemos fazer para ajudar as pessoas a terem melhores hábitos alimentares? ” abre uma gama de possibilidades para etapas de pesquisa e também para diferentes produtos finais.

O que é o produto final de um projeto?

O produto final é outra característica recorrente nos projetos, e que deve estar vinculado a uma boa questão norteadora. O produto final é o alicerce que guiará o planejamento das etapas, por isso, ao pensar em projeto, é importante começar por este ponto. A dica sempre é: comece pelo fim!

Utilizando a questão norteadora sobre o projeto de alimentos, percebemos que ela dá possibilidade de criação de vários produtos finais, como uma cartilha, um site, ou mesmo um vídeo para ser divulgado no site da escola.

Como avaliar nessa abordagem?

Ainda no campo do planejamento, é importante pensar nas formas de avaliação e  o uso de rubricas é uma estratégia utilizada na avaliação dos projetos.

As rubricas podem ser definidas como um conjunto de parâmetros para avaliar o produto final, o  engajamento e a participação dos alunos ao longo do projeto.

Cada projeto necessita de uma rubrica que deverá ser construída de acordo com aquilo que se quer avaliar, referente aos conteúdos específicos das disciplinas ou a comportamentos que se espera que os alunos desenvolvam no projeto.

Uma forma interessante de envolver os alunos é promover oportunidades para que eles também possam criar as rubricas de forma colaborativa e auxiliar na avaliação dos seus pares.

A avaliação deve ser, sempre que possível, formativa, e um espaço onde os pares, ou mesmo o professor, possam realizar um feedback efetivo para o desenvolvimento das etapas ao longo do projeto.

Os projetos são ainda espaços para desenvolver múltiplas inteligências, cooperação e trabalho em grupo. É pouco provável que os estudantes consigam passar todos pelos mesmos aprendizados e realizarem as mesmas tarefas, como ocorre numa aula tradicional, de um para muitos. Utilizando a aprendizagem baseada em projetos, é possível oferecer diferentes experiências de aprendizagens aos estudantes, e dar condições para que aprendam no seu ritmo e de acordo com seu interesse.

Agora que você conheceu um pouco mais sobre projetos, que tal levar essa ideia para sua escola? Com criatividade e um bom planejamento, um projeto pode ser ideal para engajar seus estudantes e torná-los, cada vez mais, protagonistas e autônomos

[1] BACICH, Lilian e MORAN, José Manuel. Metodologias ativas para uma educação inovadora. Porto Alegre: Penso, 2018. (p.112)

[2] Site da High Tech High: https://www.hightechhigh.org/

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Publicado por Lilian Bacich

Doutora em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano (USP), Mestre em Educação (PUC), Pedagoga (USP) e Bióloga (Mackenzie), professora de Ensino Fundamental, Ensino Médio. Coordenadora de curso de Pós-graduação em Metodologias ativas no Instituto Singularidades. Organizadora dos livros: Ensino Híbrido: personalização e tecnologia na educação; Metodologias ativas para uma educação inovadora. Cofundadora da Tríade Educacional. www.triade.me Contato: bacichlilian@gmail.com

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