Engajamento dos estudantes: algumas reflexões

Podemos considerar que esta estudante demonstra engajamento? O que determina o engajamento de um estudante? De qual engajamento estamos falando?

O engajamento dos estudantes, em aulas online, no período remoto; em aulas presenciais, no retorno às escolas; nos modelos mistos, quando parte dos alunos está na instituição de ensino e parte em casa; entre outras configurações tem sido um questionamento frequente de educadores que lecionam desde a educação infantil até o ensino superior. Várias podem ser as respostas possíveis sobre como melhorar este engajamento. Porém, antes de mais nada, seria interessante uma reflexão: de que engajamento estamos falando? Do engajamento intelectual/cognitivo com os objetos de conhecimento? Do engajamento acadêmico com o que se espera do papel do estudante em sala de aula? Do engajamento socioemocional com a experiência de aprendizagem, com os colegas, com o docente?

Outro ponto relevante a ser analisado é se a afirmação sobre maior ou menor engajamento da turma está sendo generalizada pela falta ou excesso de engajamento de alguns estudantes. É muito comum ouvirmos relatos de professores que comentam: “os estudantes quase não participaram da aula hoje…”. Algumas vezes, nem todos falaram, perguntaram, interagiram. Outras vezes, apenas alguns participaram todo o tempo. A primeira reflexão é que esses questionamentos não são decorrentes da pandemia, mas sempre existiram nas salas de aula. Em seguida, vamos refletir sobre três pontos: selecionar como coletar informações sobre os tipos de engajamento, identificar ações que podem ser realizadas para engajar, verificar o impacto e rever as estratégias escolhidas.

  1. Coleta de informações

Ao diferenciar os tipos de engajamento, coletar evidências sobre o engajamento acadêmico verificando como os estudantes interagem com as propostas em sala de aula, sabendo que essas informações trarão dados diferentes de acordo com a faixa etária. Os estudantes dos anos iniciais, por exemplo, que no final de 2019 estavam na educação infantil e, hoje, estão no final do 2o ano, podem apresentar dificuldade na compreensão da rotina da aula, na organização dos materiais, até mesmo no uso de livros didáticos ou cadernos. Os do ensino médio, que estavam gerenciando o tempo de uma forma mais “fluida” no período remoto, podem mostrar-se mais impacientes com as rotinas de aulas com menos tempo de descanso entre elas. Em relação ao engajamento cognitivo, é importante ter clareza sobre as aprendizagens essenciais que precisam ser desenvolvidas, verificando se as propostas estão sendo realizadas com facilidade ou dificuldade pelo grupo de estudantes (e cada um deles) e se a dificuldade tem relação com os aspectos acadêmicos ou com os objetos de aprendizagem e desenvolvimento selecionados. No engajamento socioemocional, várias questões precisam ser analisadas pois as emoções estão “a flor da pele” nesse momento e percebemos, principalmente com os alunos mais velhos, uma maior impaciência e agitação em alguns, e o oposto, em outros. Listar quais são, na sua instituição, as necessidades de engajamento acadêmico, cognitivo e socioemocional que são relevantes e, ao acompanhar os estudantes trabalhando em pequenos grupos, observá-los, registrando suas impressões, além de incluir momentos de conversa com os estudantes de forma individual. Registros são muito importantes para não se confiar apenas na memória, pois, nesse momento, professores têm muitas demandas e ainda se adaptam à nova rotina, com todo o impacto emocional que, enquanto seres humanos em uma pandemia, também enfrentam.

2. Identificação das ações

Com os registros das observações, importante listar ações específicas a serem adotadas em relação a cada um dos elementos listados. Para o engajamento acadêmico, escolha um dos itens que precisa ser melhor apropriado e, se possível, estabeleça pequenas concessões sempre que possível, como um maior tempo de descanso entre as atividades (em relação ao que ocorria antes da pandemia) o que também apoiará emocionalmente os estudantes, orientações procedimentais para o uso dos materiais escolares, etc. Para os aspectos cognitivos, porém, há necessidade de repensar percursos metodológicos. Como já comentado por aqui, em outros textos, a mesma aula para todos os estudantes não oferecerá oportunidades iguais para todos… Nesse sentido, construir experiências de aprendizagem que considerem as necessidades dos estudantes é fundamental.

3. Verificação e revisão

Verificar o impacto das ações planejadas e revisar o proposto é essencial nesse processo. Assim, manter uma postura de pesquisador, principalmente no momento atual, quando identificamos uma dificuldade de engajamento emocional dos estudantes no retorno às instituições de ensino e a necessidade de promovermos avanços cognitivos e acadêmicos. Nesta postura de pesquisador, coletar informações sobre cada um dos estudantes torna-se necessário, para evitarmos generalizações.

Para saber mais sobre os tipos de engajamento:

RUTHERFORD, Camille (2021). FOCUSING ON STUDENT ENGAGEMENT.  In: HAN, Huili; WILLIAMS, James H.; CUI, Shasha. Tackling Online Education: Implications of Responses to COVID-19 in Higher Education Globally, p. 47 – 61.


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Publicado por Lilian Bacich

Doutora em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano (USP), Mestre em Educação (PUC), Pedagoga (USP) e Bióloga (Mackenzie), professora de Ensino Fundamental, Ensino Médio. Coordenadora de curso de Pós-graduação em Metodologias ativas no Instituto Singularidades. Organizadora dos livros: Ensino Híbrido: personalização e tecnologia na educação; Metodologias ativas para uma educação inovadora. Cofundadora da Tríade Educacional. www.triade.me Contato: bacichlilian@gmail.com

3 comentários em “Engajamento dos estudantes: algumas reflexões

  1. Oi Lilian, percebo que muitas vezes é a falta de acesso do aluno no momento remoto. Muitos deixam para acessar em outro horário do dia quando o professor não está online. Como se o curso fosse a distância (EAD) Acaba, o aluno, carregando esta lacuna em sua aprendizagem sem que o professor perceba a tempo de agir preventivamente. E a personalização fica tardia ou até mesmo não acontece. Uma realidade, infelizmente.

  2. O planejamento e , a neurociência na educação permite que os educadores entendam como o cérebro é impactado e, assim, possam adotar os estímulos mais instruídos para os processos de aprendizagem em sala de aula, e, está ligada à criação de memórias de longa duração.

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